
O povo é que decide! Farto de certas radicalizações políticas, ou da má administração e governo de uma nação, tende muitas vezes a optar por soluções de carácter que tende a ser cada vez mais populista e messiânico. Centro esquerda – centro direita; esquerda – direita; esquerda radical – direita populista… uma espécie de pêndulo que ora deriva para um lado, ora para outro, oscilação que só a extrema esquerda e a extrema direita parecem ser exceção, pela sua tendência a totalizarem-se e prolongarem-se no poder prejudicando ou condicionando o sufrágio do povo assim subjugado a um partido único, perseguidor, sem oposição, ou a um líder que se perpétua e/ou escolhe ele mesmo os seus sucessores. O povo é que decide em democracia, mas muitas ideologias perigosas, ainda que se autointitulem como tal, usam e abusam do termo que Popper colocava em oposição às ditaduras ou tiranias, e afastam-se irremediavelmente dos seus princípios mais básicos de direitos, liberdades e garantias, participação e livre escolha. E mesmo quando parece que o povo fanatizado não tolera qualquer outra possibilidade que não o seu querido e muito amado líder, as massas já provaram historicamente que se podem enganar. Mas é de democracia que eu quero falar neste artigo. Não de tiranias que se intitulam enquanto tal nem de massas condicionadas e manipuladas pelo regime. De uma forma ou de outra, esses não têm liberdade a montante ou a jusante para decidir.
Fixemo-nos na ideia do pêndulo… quanto mais ele pende para um dos lados, com idêntica ou maior força de impacto ele oscila para o lado contrário. É isto que está a acontecer em muitos países de tradição democrática. O partido ou a coligação no poder tenta implementar nos anos que está à frente dos destinos da nação o seu programa político e ideológico. E quanto maior o empuxe e a atenção dada às minorias radicais que o sustentam no poder, maior possibilidade de escandalizar a grande falange do centro. E se surge um líder carismático do outro lado com um programa que se opõe ao da situação, maior possibilidade tem de ascender ao governo da nação. Quer pela proposta que visa terminar os fetiches dos que estavam no poder sustentados pelos pequenos partidos ruidosos e radicais, quer pela saturação do povo nos abusos económicos, legislativos, no inevitável nepotismo, ou mesmo em questões éticas onde a religião ou a faixa etária de uma maioria foi educada em princípios e valores contrários. No sufrágio, o povo tende a castigar o líder desgastado escolhendo o seu opositor direto. O problema é que quando este assume o poder, também ele coligado com minorias da anterior oposição radical, apressa-se imediatamente a colocar as suas ideologias avante, desfazendo e corrigindo as iniciativas do governo anterior e colocando em prática o mais depressa que a legislatura lhe permite os seus planos contrários. Nos centros de decisão e em lugares chave administrativos, judiciais, públicos, educativos e culturais, substitui os homens associados ao regime anterior pelos seus compadrios ideologicamente alinhados. Quanta energia gasta, quanto tempo, quanto dinheiro dos contribuintes não se esvai com tudo isto, que começa a esgotar uma nação e a paciência do povo, levando ao desinteresse político de uns, e à radicalização de outros.
Não se trata de uma teoria, mas de uma observação prática direta e recente, da qual o Continente Americano é um excelente e não tão distante exemplo. Do Governo Lula/Dilma, sustentado pelas minorias radicais e progressistas da esquerda mais bolivariana, à direita populista e militarizada de Bolsonaro… ou até mesmo da desgastada Administração Obama sucedida pela personagem pantafaçuda e grotesca de Trump, e agora por Biden, esta deriva ideológica das democracias onde as oposições firmam e radicalizam cada vez mais as suas posições, e destroem o legado anterior para estabelecer o mais célere possível o seu programa político e ideológico, tem custado às democracias discussões intermináveis e inúteis, leis contrárias e contraditórias, disputas por lugares chave no poder e compadrios, muitos milhões ao erário público e aos bolsos dos contribuintes, desinteresse e desilusão política e democrática e o surgimento de novos messianismos políticos e partidos radicais. A oposição é fundamental e saudável em democracia. O que falta muitas vezes é a complementaridade, posicionar os interesses da nação acima do partido ou de interesses externos e alheios, menos ideologia de tendência radical e extremista, a renúncia a narrativas que reconstroem a história e subvertem a sociologia, mais amor pela nação e pelo povo, pelo menos respeito e elevação na discussão pública e sem dúvida grande solidariedade e responsabilidade pelo cargo que ocupam. Uma visão política que não abraça a lógica do poder, mas do serviço. A conjugação de esforços na edificação do bem comum deve abdicar das querelas ideológicas utópicas, para poder construir, aqui e agora, a melhor e mais próspera nação possível, proporcionar o bem-estar, um povo saudável e feliz, dentro dos valores pré e suprapolíticos, éticos e solidários, fundamento e inspiração das nações verdadeiramente livres e democráticas.
Dr. Manuel Victorino